domingo, 2 de outubro de 2011

Teatro Experimental

"É justamente porque não estudei teatro que pude ser tão experimental", afirmou Bob Wilson à Folha Ilustrada (jornal Folha de São Paulo – 23/09/2011 – Fábio Cypriano )

Essa afirmação traz consigo uma grande discussão: fazer um curso para se formar em ator, diretor, cenógrafo, etc, não é redundância?  Não seria melhor formar-se em filosofia e fazer teatro, em administração e fazer teatro, em artes plásticas e fazer teatro, em engenharia e fazer teatro, em qualquer coisa e fazer teatro?
Fazendo-se um curso de quatro anos de teatro e conquistando-se um diploma, fica muito difícil escapar da doutrinação da instituição. Se os professores são escolhidos por uma comissão interna que julga  a capacidade de ensinar, a formação acadêmica e depois eles respondem a uma ementa determinada, dificilmente fogem dos parâmetros instituidos.
O experimental a que Wilson se refere, exige uma liberdade de ementa e capacidade pré-determinada. Quem experimenta não tem medo de mudar e fazer o que nunca fez e principalmente não repete doutrinas.
Acompanhando alguns amigos professores em faculdades e universidades de teatro, vejo que a novidade está sempre no primeiro ano de licenciatura, onde os materiais têm que ser “preparados”, as aulas são “preparadas”. Na seqüência dos anos, pouca coisa muda. Em um ano que fiz a tentativa de fazer uma licenciatura em teatro, tive aulas com professores que usavam fichas amareladas e cadernos surrados como guia de aula. Muitos anos de mesma ladainha. Repetição de conteúdo frente à diferença viva do aluno em seu tempo.
Os que tentam reformular a ementa, e portanto fazem revolução, pouco conseguem de efetividade. A instituição cria uma máscara maior e forma indivíduos que serão representantes de uma horda formada em determinada linguagem. As individualidades são anuladas. Se a moda é fazer teatro físico, todos serão defensores incondicionais dessa “tipologia”. Parece divertido, mas na prática torna-se uma chatice.
É o que acontece no que chamam dança contemporânea, onde a coreografia, para quem assiste e é ignorante como eu, lembra tudo, menos dança. A relação música – corpo, é inexistente. Se você sair com cara de não entendi, será taxado de retrógrado, careta, burro, insensível, etc, etc....
Conversando sobre cenografia com uma amiga que está imersa na linguagem do teatro dito contemporâneo  e para isso estuda muito, vi que ando fora do contexto. Ainda acredito em cenografias construídas, materializadas, com movimentos, que exigem projeto e estudo de materiais. O contemporâneo nega o espaço, nega o existente e é sempre experimental. Infelizmente não é o que vejo na grande maioria dos que se rotulam e foram formados nessa linguagem contemporânea. Para negar-se o espaço cênico, é necessário anos de utilização de espaços convencionais. Como pode-se negar algo que não se experimentou ao máximo e de todas as formas possíveis? 
Para destituirmos o espaço cênico de elementos cenográficos, exige-se muitos estudos. Em minha vida profissional, assisti apenas a um espetáculo onde a cenografia existia, sem existir materialmente. Qualquer elemento cenográfico em cena seria demais. A dramaturgia e a atuação dos atores que não eram atores, enchiam o espaço, construíam anteparos e elementos sem que eles precisassem existir fisicamente.
É uma equação difícil de fechar-se. Colocar elementos é muito fácil, limpar o espaço é fruto de muito trabalho, de muita observação e interação artística e de negociação.
A formação em teatro é um fato. Os formandos inundam nossos palcos, felizes, diplomados e com uma razão instituída e em raros casos constituída. Em cenografia a "experimentação" fica mais pelas deficiências do conjunto cenógrafo – diretor –ator - , do que por estudo e projeto.
O mercado e a sobrevivência são fatores cruciais para a não experimentação em meio a editais e leis de incentivos. Bob Wilson, provavelmente não depende deles.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Fotomaton

Cenário criado para o espetáculo Fotomaton, da Cia Alameda de Curitiba                        Foto Alfredo Gomes

A cenografia sem a iluminação, preserva a racionalidade do projeto e apresenta-se como um sistema complexo de materiais colocados em um espaço pré definido. Essa é a forma mais pura da cenografia pós-projeto. A iluminação pode contribuir para criarem-se inúmeras facetas de um mesmo espaço, relacionando  a lógica da cenografia com as nuances da dramaturgia.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A Terra dos milagres.

A cenografia em Curitiba passa por uma fase interessante. O pouco que tenho visto é sempre pouco. Mesmo quando participo como cenógrafo, acho que é pouco.
A idéia de quem cria o espetáculo, em alguns casos o diretor, o produtor ou o grupo em outros, proporciona ao cenógrafo parâmetros bem definidos: fácil de transportar, leve, fácil de montar, pequeno, barato e nem pensar em técnico, maquinaria, etc, etc, etc....
Vejo, quando a Proscenium faz e constrói cenários para outros cenógrafos, que a mudança da função estética é pelo econômico. Tiram-se elementos, trocam-se materiais, extinguem-se idéias, porque não há o que move o nosso teatro hoje em dia: o dinheiro.
Em uma comunidade artística sustentada por editais, mecenatos, prêmios e fomentos, os criadores de obras teatrais deveriam perguntar-se o que querem quando direcionam-se para a cenografia.
Por experiência, vejo que as produções seguem cartilhas de valores. Os cenógrafos valem tanto, e devem projetar, construir, montar e acompanhar 40% dos ensaios. O "tanto", em Curitiba, nos últimos sete anos, é o mesmo valor.
Além da errônea compreensão da função do cenógrafo, se dividirmos o tal cachê em três meses de produção, teremos quase um salário mínimo por mês, não descontados os impostos. Realmente impressionante. É uma das vertentes a que ficam sujeitas as produções enlaçadas às benesses do poder público.
A culpa pode ser da ciranda produtiva. Mas a nossa indústria da cenografia resume-se a painéis e móveis da casa da mãe ou de lojas de usados, normalmente sem nenhum tratamento - Lembrem-se: não aos técnicos e aos aderecistas e aos pintores de arte – afinal eles custam caro.
A minha maior alegria é quando há cenário. Mesmo que não haja elemento algum em cena. A busca da economia nas funções técnicas, traz ao meio teatral curitibano, a retirada da cenografia, que é, tecnicamente falando, diferente de ter-se uma cenografia sem nenhum elemento.
Poucos mestres da cenografia conseguiram a façanha de fazer cenário sem nenhum cenário construído. Essa “limpeza”, é digna dos gênios. Infelizmente, vejo que em nossa cidade, essa tentativa é proveniente de um fator alheio ao criativo, e pouco sensível à arte: o econômico.
Dizer aos produtores que se quiserem cenário terão que direcionar no mínimo 15% da verba para a área, é comprar uma boa briga. Mas 15 % é para um cenário meia boca, com restrições, com tempo reduzido na construção e acabamento primário. A boa cenografia, profissional, teria que abocanhar uns 45 % da bolada. Obviamente, que estou trabalhando com os valores de nossos editais.
Outra obviedade, é que isso não passa de conjectura.
O que ainda não entendi, é que os projetos feitos com o mesmo valor, e com elencos diferentes, tenham um padrão idêntico para a área da cenografia. Vi espetáculos com 10 atores e com 2, deixarem a mesma coisa para a cenografia. Vi espetáculos com dezenas de equipamentos de luz e projeção e outros com nada, destinarem o mesmo tanto para a área técnica..
Concluo, que Curitiba é a terra do milagre. Milagre por que ainda fazem-se cenários. Milagre porque ainda temos técnicos de teatro. Milagre porque mesmo sem público há dezenas de peças em cartaz. Milagre da multiplicação: cenógrafos fazendo 4 ou 5 cenários ao mesmo tempo, iluminadores iluminando 4 ou mais peças ao mesmo tempo. Atores em 3 peças ou mais. Diretores dirigindo 4 peças ao mesmo tempo.
Eu, particularmente, não acredito em milagres.